Resumo de 30/05/2011

A maior das habilidades é vencer os exércitos inimigos sem lutar.
Sun Tzu
Sun Tzu foi um militar chinês que viveu no século IV AC e que no comando do exército real de Wu acumulou inúmeras vitórias, derrotando exércitos inimigos e capturando seus comandantes. Foi um profundo conhecedor das manobras militares e escreveu A ARTE DA GUERRA, ensinando estratégias de combate e táticas de guerra.
Uma das histórias mais repetidas sobre Sun Tzu descreve o modo pelo qual ele empregava as “concubinas” para demonstrar, no palácio, ao rei, exemplos de manobras de combate e deslocamentos de tropas.
A obra, permeada pelo pensamento político e filosófico do Tao Te King, também se iguala ao grande clássico taoísta na estrutura formal, composta por uma coleção de aforismos em geral atribuídos a um autor obscuro e quase lendário. Ou seja, é feito um desafio a compartilhar o conhecimento e em contrapartida, é esperado que haja uma concordância sobre tal idéia ou até mesmo que se discorde de tal idéia, o que por certo, é mais provável, incitando os indivíduos envolvidos em uma espécie de debate.
Alguns taoístas acreditam que o Tao-Te King seja a transmissão de um conhecimento antigo, compilado e elaborado pelo seu “autor”, e não que seja uma obra totalmente original. O mesmo pode-se dizer de A Arte da Guerra.
Seja lá como for, ambos os clássicos têm em comum a estrutura geral formada por ideias centrais que reaparecem ao longo do texto em contextos diferentes.
Análise de A Arte da Guerra
O verso inicial do clássico de Sun Tzu constitui uma chave para toda a sua filosofia. “A guerra é uma questão vital para o Estado. Torna-se de suma importância estudá-la com muito cuidado em todos os seus detalhes.” Aqui, ele reconhece, sendo o primeiro a fazê-lo, que a luta armada não é uma aberração transitória, mas sim um ato consciente e periódico, suscetível de análise racional.
Sun Tzu acreditava que a força moral e as faculdades intelectuais do homem eram decisivas na guerra e ainda que, se estas fossem corretamente aplicadas, a guerra chegaria a seu fim com sucesso, nunca devendo ser efetuada impensada ou desabridamente, mas sempre precedida de medidas que a tornassem fácil de vencer.
Frustrava os planos do seu inimigo e rompia as suas alianças. Abria clivagens entre o soberano e os seus ministros, entre comandantes e comandados, entre superiores e inferiores. Os seus espiões e agentes estariam ativos em todo o lado, recolhendo informes, semeando a discórdia e alimentando a subversão. O inimigo devia ser isolado e desmoralizado, a sua força de resistência quebrada. Só assim, e sem qualquer batalha, os seus exércitos seriam vencidos, as suas cidades tomadas e o seu Estado derrubado.
Apenas e somente quando o adversário não pudesse ser dominado por aqueles meios se recorreria à força armada, a ser utilizada com a vitória como objetivo único:
a) No menor espaço de tempo possível;
b) Com o mínimo de perda decidas e esforços possíveis;
c) Com o mínimo possível de baixas causadas ao inimigo.
A unidade nacional era para Sun Tzu uma condição essencial para a guerra. Isso só podia ser conseguido graças a um governo devotado ao bem-estar do povo, e não à sua opressão. Sun Hsing-yen estava correto quando observava que as teorias de Sun Tzu se apoiavam na “benevolência e retidão”.
Ligando a guerra ao seu mais próximo contexto político, às alianças ou a sua inexistência, à unidade e estabilidade internas e ao moral dos exércitos próprios, em contraste com a desunião dos adversários, Sun Tzu procurava estabelecer uma base realística para o cálculo racional das forças em confronto.
A sua percepção quanto à intervenção na guerra de componentes mentais, morais, físicos e circunstanciais revela enorme acuidade. Muito embora Sun Tzu não tivesse sido a primeira pessoa a compreender que a força armada é o último dos árbitros nos conflitos entre Estados, foi de fato o primeiro a dar uma perspectiva real ao entrechoque físico.
Sun Tzu distinguia perfeitamente entre o que hoje definiríamos como “estratégia nacional” e “estratégia militar”. Tal é evidenciado na sua dissertação sobre o cálculo das forças a enfrentar-se, no capítulo 1, onde menciona cinco “assuntos” a ser ponderados nos conselhos: os humanos (o moral e o comando), os físicos (o terreno e o clima) e os doutrinários. Só com a certeza de superioridade nesses pontos encarregava-se o conselho da aferição de efetivos (que Sun Tzu não considerava como decisiva), qualidade das tropas, disciplina, equidade na administração, recompensas e castigos, e preparação.
A teoria de Sun Tzu, da adaptabilidade às situações, constitui uma importante faceta do seu pensar. Isso não é, de modo algum, um conceito passivo, dado que, se se der trela suficiente ao inimigo, ele próprio, muitas vezes, se esganará nela. Este tipo de cedências, disfarçando propósitos maiores, não é mais do que ainda outra das características da flexibilidade mental típica do guerreiro especialista.
Panorama histórico
Mestre Sun sugere que os leitores contemplem a devastação provocada pela guerra, desde as fases iniciais de traição e alienação até as formas extremas de ataque incendiário e assédio, vista como uma espécie de canibalismo em massa dos recursos humanos e naturais. Com este mecanismo, ele fornece ao leitor um sentimento mais ampliado para o significado das virtudes individuais e sociais esposadas pêlos pacifistas humanitários.
Deste ponto de vista, é natural que se pense sobre a linha taoísta de A Arte da Guerra não como um elemento cultural casual, mas como uma chave para a compreensão do texto em todos os seus níveis. Pela natureza de sua temática manifesta, A Arte da Guerra exigia a atenção das pessoas que tinham menos possibilidades de compreender os ensinamentos pacifistas dos humanistas clássicos.
Como o I Ching preservou certas ideias filosóficas ao longo de toda espécie de mudança política e social pela sua popularidade como oráculo e como livro de conselhos, assim A Arte da Guerra conservou o âmago da filosofia prática taoísta da destruição pela sua antítese.
Muitas vezes se pensa que o paradoxo é um instrumento padrão da psicologia taoísta, utilizado para transpor barreiras imperceptíveis de consciência. Talvez o paradoxo de A Arte da Guerra esteja na sua oposição à guerra. E como A Arte da Guerra guerreia contra a guerra, assim o faz por seus próprios princípios; ela se infiltra nas linhas inimigas, revela os segredos do inimigo e muda o coração das tropas adversárias.
Ligações com outros textos clássicos chineses
Escrita há mais de dois mil anos, durante um longo período de convulsões sociais, A Arte da Guerra brotou das mesmas condições sociais que deram origem a alguns dos clássicos mais importantes do humanismo chinês, incluindo-se o Tão Te King. Tratando a questão do conflito através de um modo mais racional que emocional, Sun Tzu mostrou que a compreensão do conflito pode levar tanto à sua solução como à decisão de evitá-lo completamente.
Ao longo dos séculos, muitos estudiosos se deram conta da importância do pensamento taoísta em A Arte da Guerra: tanto as obras filosóficas como as políticas do cânon taoísta atestam seu reconhecimento pelo clássico da estratégia. O nível de reconhecimento representado pelos pontos culminantes de A Arte da Guerra — o nível da invencibilidade e o da doutrina do não-conflito — é uma expressão do que o saber taoísta chama de “conhecimento profundo e ação resoluta”.
Nos termos do escrito, o guerreiro-mestre é aquele que conhece a psicologia e a mecânica do conflito com tanta precisão que percebe imediatamente qualquer movimento do adversário; é alguém capaz de agir em harmonia perfeita com as situações, ajustando-se aos seus padrões naturais com um mínimo de esforço.